sexta-feira, 14 de outubro de 2011 2 comentários

A arte de responder

Arrisco dizer que há uns 15 anos era comum encontrarmos na caixinha de correspondência uma  carta escrita a mão de uma pessoa querida. Quem nunca explodiu de alegria por ter a poderosa missão de abrir o envelope; ler e reler todos os trechos que foram escritos pensando em você e, como forma de carinho e gratidão, responder a pessoa com o mesmo afinco.

Tive a sorte de, mesmo com a internet e os e-mails – ainda sem as redes sociais – contemplar tamanha felicidade. Todos os meses eu aguardava ansiosa e recebia as mais belas cartas de amizade e amor escritas pelo meu amore Marcio. Ele sempre escrevia para mim e, claro, eu para ele. Um prazer indescritível! Ele realmente me conhece.

Hoje também arrisco dizer que já não existe esta forma de se corresponder com as pessoas queridas. Uma pena para quem não viveu esta esplendorosa época. O carteiro ainda existe, mas as cartas que encontramos na caixa de correspondência são apenas contas, senão revistas e jornais para leitura.

Atualmente, quem ainda não conhece as redes sociais, se corresponde por e-mail – ferramenta que, infelizmente, já começa a se extinguir para os mais jovens – ou mensagens de celulares. Mas não dá para fugir da realidade de que em poucas linhas é impossível dizer tudo.

Tudo bem, até é possível em algumas situações já que também sou adepta a esta tecnologia, mas se me perguntarem se há profundidade nas mensagens escritas em meros 140 caracteres (senão menos) direi com convicção que não. Acredito que no Twitter, com muito garimpo e sorte, você encontrará bons seguidores que linkarão textos interessantíssimos para a sua leitura e, com certeza, eles terão mais de 140 caracteres.

Não existe mais o sentido de escrever para a pessoa “x”, contando que ela desfrutará das suas experiências e, principalmente, do tempo que você se dedicou para deixar registrado ao menos um pouquinho da sua história, seja em imagens, palavras escritas a mão, pela agilidade dos seus dedos nas telas dos celulares, tablets ou teclados do computador.

Responder então ficou ainda mais difícil para as pessoas ditas atarefadas e modernas. Ainda que poucos, romancistas como eu existem tentando se corresponder com pessoas queridas. Não mais por cartas, confesso – apesar de ainda escrever para o Marcio em datas especiais –, mas em meios eletrônicos um pouco mais pertinaz.

O problema é que são poucos os que têm o esmero em respondê-los. Se antes responder era a forma de agradecer pelo tempo dedicado a ele, agora não há mais tempo ou coragem de fazer o mesmo. E assim perde-se o respeito, as histórias, as lembranças, os documentos, a agilidade em escrever, o conhecimento pela nossa Língua Portuguesa.

Talvez eu pense assim por ser esta jornalista apaixonada pelas palavras e que, por isso, adora escrever. Aliás, sempre gostei de registrar meus pensamentos, ainda quando criança. Mas como tal, ao menos na profissão, não preciso que os meus leitores respondam o que eu escrevo, pois a mim cabe somente informá-los e distraí-los com a releitura de histórias verídicas.

Dos amigos e familiares é sempre bom o anseio à espera pela arte de responder.
 
;